quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

O pé fora do ninho.

Vez ou outra todo mundo se pega naqueles momentos de profundo "inside", onde perdemos a noção do tempo e espaço, e nos transportamos para o mundo exclusivo do nosso inconsciente.
Eu mesmo, sou entrada vip no amago de minha mente.

O ano passado foi um ano muito difícil pra mim por uma série de razões. A principal foi que no ano passado eu entendi e decidi que havia chegado a hora de eu sair da casa da minha mãe.
Começar uma vida independente, querendo assumir ou não, parece ser bem mais fácil do que realmente é pra todos os navegantes de primeira viajem. Todavia, essa é uma empreitada que solidificará em você todos os conceitos que você negou durante toda a sua vida, conceitos estes transmitidos a você pelos seus predecessores.
O grito de guerra "Não dependo de ninguém" se tornará uma voz cada vez mais murmurosa dentro de você, sobretudo nos momentos de maior sofrimento, onde você se verá sozinho e desamparado.
Mas eu não estou falando isso pra desanimar ninguém não, isso jamais. Na verdade, hoje eu acredito que o "segundo parto" - uma vez que é neste momento crucial de decisão pela auto-suficiência que nos descobrimos como verdadeiras fragilidades ambulantes - é uma experiencia pela qual todas as pessoas deveriam passar.
Até mesmo pra começar a se respeitar como o animal que é, e entender a importância de caçar pra sobreviver. Enquanto moramos com nossos pais, vemos o trabalho deles e a forma com que encaram as adversidades como padrões arcaicos de comportamento, e logo, desmerecemos qualquer possível credito que tal posicionamento poderia ter a nós, que almejamos tão vorazmente a dita independência. No meu caso, acredito que essa amargura foi maior, uma vez que saí de casa em conflito com a família.

A verdade é que ninguém nunca poderá entender o que passa na cabeça da gente. A psicanálise cria diversas nomenclaturas pra dar algum jeito de o mundo não saber que é louco. Mas qualquer um que pare e pense sobre as configurações das nossas interações sociais vai saber que vivemos em um mundo que carrega sobre sua crosta 7 bilhões de tipos de loucuras diferentes.
Quantas vezes não me peguei preso a uma mesma ideia, repetida sistematicamente na playlist da consciência? Milhares! O Transtorno Obsessivo Compulsivo, popular como "TOC", por exemplo, é mais uma das nomenclaturas criadas pelo homem pra tentar definir aquela pulsão que ele não entende.
E é assim que o homem faz: Tudo aquilo que lhe está além da compreensão acaba virando conceito, crença, verdade inquestionável, opinião, base do firmamento cultural de nossa matriz social, ou é tido como mentira. Nada está livre da pulsão do homem de se sobrepor a todo o resto que existe, nem Deus.
Até mesmo Ele virou conceito, crença, verdade inquestionável, opinião, base do firmamento cultural de nossa matriz social, e não existe nenhum humano na terra que nunca tenha cogitado a possibilidade do mesmo ser mentira.
O "extraordinário" sempre foi e sempre será sujeito a algum cercamento interpretativo por parte do homem. O problema é que tudo o que é "extraordinário" não pode ser totalmente compreendido, não pode ser cercado, emoldurado, pois seus limites são desconhecidos.
Vivemos a vida como se todos os dias fossem iguais, como se fossemos donos do futuro.
Não é verdade! Para morrer, basta estar vivo!

Vez ou outra todo mundo se pega naqueles momentos de profundo "inside", onde perdemos a noção do tempo e espaço, e nos transportamos para o mundo exclusivo do nosso inconsciente.
A importância desses momentos de reflexão está justamente na sua configuração, onde avaliamos as nossas intenções, e, por sempre vermos nossas intenções como "boas intenções", acabamos nos julgando pessoas boas. Esquecemos da regra maior do Universo, aquela que diz que somos avaliados com o mesmo peso que avaliamos os outros. Ou seja, o que conta no final são as nossas atitudes.
As atitudes, assim como as intenções, são manifestações de nossa existência e são, por sua vez, neutras de qualquer atribuição real de "bom" ou "ruim", exceto pelo sentido moral de cada pessoa tem em sua avaliação. Graças a Deus, é de saber de todos que a maioria das pessoas aderem à uma mesma configuração de critérios avaliativos, ou seja, A MAIORIA PENSA IGUAL, mesmo que veja tudo diferente.
Quando a gente percebe que são as nossas atitudes que precisam ser alvo de nossa atenção, cuidado e planejamento - e não as intenções - aí sim, chega o momento em que você consegue dar o tão esperado primeiro passo pra fora do ninho, e entra no caminho que levará à independência. Na verdade, esse lapso de clareza nem sempre acontece a todos. Creio eu que essa iluminação é uma benção que só quem é escolhido tem.
Você já se sentiu escolhido? Separado do resto do mundo por algo em você que só você enxergava? Eu me vejo assim desde sempre. Não é arrogância, é só um traço que eu mantenho vivo desde a infância. Todo mundo se vê de alguma forma, eu me vejo assim e foda-se o resto.
Até porque, quem nunca teve a sensação de estar sendo observado?

Voltando ao assunto (e tentando ser mais direto, após ter dado mais voltas argumentativas do que político durante prestação de contas), acredito que a maior parte dos sofrimentos que tive no começo de minha caminhada longe do seio materno se deu justamente por essa falta de consciência acerca  do que eu disse sobre atitudes e intenções. Se eu não tivesse emoldurado e limitado tanto a ideia de viver só diante do nosso mundo cruel e opressor, talvez, TALVEZ MESMO eu não tivesse sido tão despreparado nos primeiros e amargos momentos da vida independente. Eu teria aceitado o mistério como algo tão real quanto a certeza, e talvez tivesse tido um pouco mais de respeito diante do maior oponente do coração, que é a solidão.

Mas a vida é assim. Com o tempo, a gente aprende a ser mestre de si mesmo.

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